quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um crime chamado saudade

Hoje eu me sentei num banco. Não sabia que o faria, mas, no fundo, eu tinha uma intimidade com ele, por isso o fiz. Nós nos sentamos nele há 4 meses atrás. Por isso ele me era tão familiar. Encontrei ele quando meu cigarro ainda estava na metade. Então decidi terminar ali mesmo, onde tudo começou. Sim, por que quem éramos nós há 4 meses atrás? Éramos dois meninos, aprendendo a viver e a brincar. Aliás, as brincadeiras por elas próprias eram nossas lições de vida. E no compasso do tempo, a vida ia impondo tarefas mais árduas. Embora sufocante, não se ausentava de nós - mas se atirava em nossos braços. Nessa entrega residia o desencontro, pois volta e meia isso me impedia que eu te abraçasse. E então essa ausência se fez habitual, nas duas últimas semanas. Eu simplesmente voltava a ser o que sempre fui... Novamente me desgosto. Esse jeito irritado, atrapalhado e perdido; a cabeça saía rolando facilmente. É fato que o amor me ensinara a ser mais gentil com o mundo e comigo mesmo. E por isso acho que devo tanto a você e ao seu carinho. No entanto, por mais que eu queira recompensar, existe uma vírgula que nos separa. Como dois nomes citados, onde a ordem não importa. Mas se me perguntassem meu nome hoje, eu diria vírgula. Sim, vírgula, ou simplesmente faria um silêncio breve antes de dizer Milton. Nunca fui fã de nome composto, mas acho que é um oportunidade para adotar um. , Milton. Sobrenome? Acho que não... Algumas vezes pensei adotar um pseudônimo, mas no caminho fiquei com medo de me perder. E se eu disser que sem ele estou perdido? Acho que eu queria mudar de sobrenome, embora eu saiba que "Quando eu tiver alguém que me ame muito, não precisa sobrenome, pois é o amor que faz o homem." Isso quer dizer que esse nome não é falso, emprestado, nem muito menos roubado. Isso significa que eu gostaria de me casar! Sim, foram planos como esse que sonhamos aqui neste banco. Alguns 4 meses parecem pouco, mas passou voando. E hoje somos adultos com um mundo cheio de problemas nas mãos. Pra complicar, boa parte desses problemas têm vida própria ou são gente. E o que somos nós, afinal? Seres que desejam se encontrar e se pertencer. Somos vítimas do caos que é a sequência do tempo, que nos sensibiliza e torna quase que insuportável o peso dos nossos defeitos mais leves. Veja, meu amor, nós não temos culpa. Aqui estivemos, aqui estaremos - sempre. Aquele momento no banco até parece morto. O lugar mudou tanto... Tantas pessoas se sentaram ali e deram tantas festas como nós demos, dois pobres que alugavam um banco de rua para juntar amigos, beber, fumar e ser feliz. Foi tanta coisa que se perguntarem ao banco, ele nada sabe, nada viu. Tudo está igual, mas está tão diferente... Por que o mundo mudou e me levou o gosto saboroso que tinha o amor. Fiquei sem mãos, sem pés, sem cabeça. Fui decomposto, parte a parte... E se perguntarem o que sobrou de mim, vou dizer: só lembranças. E se me perguntarem o que sou, devo dizer: não sei (mais). Me debruço diante de mim, e na rua vou a cada lugar que fomos juntos, cada memória que contenha você, e isso é o que me sustenta para te encontrar outra vez, por que... Até quando? Até quando, esse absurdo? Nos levaram um do outro e esse foi um crime que não sei se saberei perdoar. Por que mais que a própria morte, a saudade me mata; cada dia um pouco mais.

Um comentário:

Gabriela Alcântara disse...

saudade é um troço complicado, alimenta a lembrança, que acalma e tortura o coração.