terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Febre de Terça-Feira.

Nestes últimos dias ando com o corpo cansado, com a cabeça carregada; o semblante arrebatado de lágrimas exaustas. Tudo desanda; o quarto fora de ordem, cheio de pontas de cigarro, letras de canções, frases de pessoas célebres e poemas inacabados por toda parte. Roupas amontoadas, a cama desfeita há tanto tempo... Passava a maior parte do tempo deitado. Hoje me levantei um pouco melhor. Ainda que com a leve sombra que algo não ia bem. Joguei um pouco de água no rosto, os olhos vermelhos e as pálpebras pesavam, e tudo se tornava pouco a pouco mais claro, dia após dia. Voltei para o quarto sem nada mencionar e me deitei mais uma vez. Minhas costas doíam de tanto tempo sentado e deitado. Estava sedentário, precisava me movimentar, praticar algum exercício. Só assim me sentiria melhor, como também encontraria ocupação para não pensar naquelas coisas que eu tanto pensava. Peguei uma revista nova que estava na cabeceira; li dois parágrafos, mas logo me desinteressei. Resolvi por um disco no aparelho de som. Eram aquelas músicas que eu não cansava de escutar, pois embora me tocassem lá no fundo me traziam qualquer coisa de conforto. Coloquei no repeat e voltei pra casa. Aqueles olhos entreabertos se regeneravam rapidamente. Ontem mesmo choravam como os de uma criança sem a mãe; Hoje carregavam uma superação ainda mal resolvida em seus reflexos, mas sempre fortes e com algo de otimista, sem mágoas. As letras em francês diziam a mesma coisa, mas nenhuma lágrima pendia. Por vezes, o peito apertava e o ar parecia faltar. E não, não era por causa do cigarro. Apesar dos excessos, eu só tinha vinte anos. Eu funcionava a pleno vapor, meus pulmões, meu fígado, meu coração... Por um momento pensei que a velhice tivesse chegado, quando acreditei que não surgiria novo amor. Eu não conseguia amar; na verdade era só eu que é seletivo. Fiquei pensando nos acontecimentos que ainda me assombravam e um poema começava a se esboçar na minha mente. Mas tinha preguiça, não tinha coragem de me levantar e escrever aquelas loucuras silenciosas que na verdade eu gostaria de gritar em sua cara. Li um texto de uma amiga, e ele se parecia muito comigo... A moça na separação abaixara o rosto para evitar os olhos, fizera uma expressão com a boca e disse: tudo bem. Era bem eu, isso. Meus sentimentos se reuniam e ainda havia esperança. Mas naquele momento, eu só queria o silêncio e o escuro do meu quarto. Quem sabe amanhã? Estiquei-me todo e peguei uma caneta e uma folha de ofício que repousavam também na cabeceira. Aos poucos o atrito da caneta com a brancura do papel foi tomando sentido, bem como todos os meus sentimentos:



“Faz tempo que não telefonas
Com saudades de minha paz,
Te convidando a participar
Do meu viver, do meu amar,
Como dias atrás.

Faz tempo que não me procuras,
Que não me aturas, que não me escutas,
Como era habitual para mim na época
Em que para ti minha voz e minha pele eram festa,
Alento. Faz tempo.

Faz tempo que não caminhas
Em direção às nossas lembranças, a mim,
Que tua vida, não mais a expões,
E que ela já não crê, enfim,
No amor, no prazer que uniu nossos corações.

Faz tempo que teu beijo ou teu cheiro
Não vem me visitar,
Faz tempo que tua mão
Não vem se encontrar
Com a minha
Como antes vinha,
Pôr sentimento em minha emoção.

Faz tempo que teus olhos
Não brilham mais como antes
Tornando os meus também brilhantes
Faz tanto tempo, parecia,
Faz só alguns dias...

Faz alguns dias que não és mais quem tu eras,
Mas para mim, me parece tanto tempo...
Encarando o firmamento,
Lamento por teus olhos que não vêem mais
– meu hábito te sujou os olhos.
E se hoje ainda choro,
É por minha culpa:

Meu carinho foi em excesso;
Minha bondade, frágil demais;
E o que julguei estar certo
Não passava de ilusão,
De uma dor.
Se hoje tu não me amas mais,
Não precisa haver perdão,
É assim que eu pago por sentir tanto amor.”

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